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Colunas
27/04/2018 - 15h46
“As pérolas do meu relicário... !”
Com minhas homenagens ao Wenceslau de Oliveira “Cilau”


        Quando retornei à minha terra para aqui me recontar com meu passado, retirei da gaveta de meus sonhos o propósito de rememorar para as gerações que aqui encontrei, um pouco da vida e da história de homens e mulheres que, lá longe no passado, para cá se transportam com alma e bagagens e aqui se radicaram com ânimo definitivo e nos deram suas mãos para juntos, construirmos o progresso e a grandeza de nossa terra.

        Para não perder ou esquecer no ostracismo alguns ou todos esses nomes da nossa história, criei nas minhas lembranças um recanto afetivo a que dei o nome de Relicário e aos homens e mulheres que minha memória os reencontrar e a tantos outros que os anais da história e a valiosa e enriquecida colaboração de jornalistas, escritores e velhos moradores da terra puderem me ofertar, a esses homens e mulheres, dei o nome de Pérolas, para compor as “Pérolas do meu relicário”, aonde  e por onde desejo relembrá-los e redimí-los em nossa gratidão.

       Aprendi e não joguei fora a lição ouvida de muitos eruditos doutrinadores e festejados cronistas historiadores, de que um “povo sem história é um povo sem futuro”. E nós a temos, enriquecida pelo trabalho, pela dedicação, pela nobreza de caráter e pela devoção de muitos desses homens e mulheres que em décadas vividas, deram o melhor de si para contribuir com os primeiros caminhar de nossa construção econômica, espiritual, cultural e cívica.

       Um dia, que não vai distante, dei asas a um “enlouquecido devaneio”, imaginando poder assentar em torno a uma mesa sem quinas, quem sabe no pódio do coreto da Praça da Matriz (Pça. Mon. Thiago) e ter comigo ídolos como Eustáquio Amaral, Flávio José de Almeida, Fátima Machado, Milton Magalhães, Joaquim Correia Machado Filho e outros que me escapam à lembrança e, juntos, pudermos reescrever para nossos atuais irmãos, genéticos e adotivos, um pouco, ou o que nos for possível, da vida e da história de nossos antepassados.

       Desde os tempos em que mais de perto convivi com a figura inesquecível do jornalista Odair de oliveira, Redator chefe do jornal “Estado de Minas”, nosso inteligente e operoso conterrâneo, por várias dava-me ele notícias de um livro que estava sendo estruturado por ele, paciente e cuidadosamente, via do qual eram garimpadas minunciosamente, as histórias das antigas e mais tradicionais famílias patrocinenses, marrando-lhes suas origens, suas atividades, suas contribuições para nosso desenvolvimento maior e quem e quais seus sucessores até nossos dias.

        Não lhe permitiu o destino que Odair pudesse levar o bom termo essa obra que seria imortal no seu contexto. Uma enfermidade cruel levou-o para o andar de cima, em plena floração de uma vida rica, fértil, benfazeja e querida.

       Soube, sem melhor confirmação que, antevendo a aproximação da ceifadeira universal, diante de uma incontrolável atrofia do sistema renal repassou todos os originais dessa inacabada obra ao seu irmão Gerson de Oliveira, que residia em São Paulo. Mais tarde, em busca de informações sobre o rumo que teriam tomado esses originais, fomos encontrar Gerson em sua moradia, no fim de uma tarde, em torno a uma mesa de bar, segurando com as mãos trêmulas, um copo de cerveja. Era um trapo humano; era uma inteligência erudita sendo carcomida pelo vício; era uma alma chorosa, vergastada pelas saudades da terra natal; era um coração avinagrado pela ingratidão com que fôra acolhido pelos seus conterrâneos que lhe negaram seus votos na disputa à Câmara de Vereadores. Perguntado pelos originais que lhe enviara o irmão pranteado respondeu melancólica e indiferentemente: “Estão em casa...”

      Com certeza, pela primorosa competência de seu garimpeiro, esses escritos tem um valor inestimável e torna-se imperioso reencontrá-los e, ampliando-os, transformá-los em um livro da maior importância.

        Diante desse quadro, relativamente a esses originais e da inadiável necessidade de reencontrá-los, imagino que o Secretário de Cultura do Munícipio, com o sinal verde do Sr. Prefeito Municipal, possa adotar providências necessárias à efetivação dessa grandiosa tarefa. Como nas ruínas das antigas civilizações, haveremos de remover as areias que estão sepultando nossa história e restaurar para conhecimento das atuais gerações os monumentos humanos que, com suas bravuras, com suas gotas de suor e de lágrimas, nos outorgaram os caminhos do progresso, da grandeza e da fertilidade de nossas emoções.

        As “Pérolas do meu relicário” haverão de prosseguir... com valiosa ajuda de tantos ícones, aqui e acolá, mas como Gerson de Oliveira, lá distante, ainda “gemem e soluçam com saudades” de Patrocínio.



Wilson Fernandes Veloso



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