DISCERNIMENTO E COMPAIXÃO…
Li em algum
lugar: “A carteira do diabo.
Nela um
sujeito ganhava do demo uma carteira cheia de dinheiro, que seria renovado
diariamente se ele conseguisse gastar tudo até à meia noite de cada dia. No
início foi beleza, havia a demanda reprimida dos desejos de uma vida e o cara
ia esbanjando sem dó nem piedade. Mas a imaginação, mesmo com tantos desejos,
cessou e ele viu, apavorado, que o tempo se esgotava sem sem ter conseguido
gastar nem a metade da bufunfa. À meio noite, o capirôto veio buscá-lo e ainda
lhe deu uma lição de moral daquelas: Podia ter usado o dinheiro em favor dos
pobres. Eles são inextinguíveis…”
Antes de
mais nada, meu coração se contorce com a imagem abaixo. Ela é aviltante. Um
murro na cara da sociedade. Cenas destas depõem contra a nossa humanidade.
Coloca abaixo os nossos valores.
Foi o tempo
em que estas pessoas eram chamados de “seres invisíveis” Hoje estes
irmãozinhos, deixaram os becos, as periferias, as ruas do fundo e estão
ocupando os centro das cidades.
Vi,
tristemente esta situação de perto, eles estão perambulando ou alojados nos
principais atrativos turísticos em São Paulo, ( centro) Ribeirão Preto,(
centro) Belo Horizonte( centro) e este aí da foto, estirado na calçada, é em
Uberlândia, também no centro.
A situação
é crítica. É uma calamidade pública. Tá,trata-se de um problema global, os sem
abrigos estão lá na Champs Elysée, em Paris; Wall Street, nos EUA, mas aqui no
Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba eles são palpáveis.
Primeiramente,
é urgente a consciência de que moradores em “situação de rua” ( eles vão
mudando as nomenclaturas, sem resolver os problemas) não são invisíveis.
Repito, estão em profusão nos centros da cidades. Não há como fazer vistas
grossas. Eles sempre foram muitos, agora são demais.
Mais
urgente ainda um olhar mais focado e resolutor de governos, igrejas, Clubes de
Serviços, Instituições do Terceiro Setor, Política Militar, conhecer caso a
caso, entrar em contato com as reais necessidades, com o princípio é o
imperativo de enxergar o ser humano como sendo um membro de nossa família… e
são.
Ainda que
en passant, é preciso mencionar o trabalho social realizado pela Sociedade de
São Vicente de Paulo, (SSVP), Centros e Comunidades Espíritas, Ação Sociais da
Igreja Universal do Reino de Deus, e demais mãos amigas que levam anonimamente,
o pão, as vestes, o carinho e o acolhimento.
Se por um
lado tem gente ajudando tem gente lutando para escangalhar mais a situação, já
escangalhada. Ainda que em passant, como não dizer: Aquele partido político
o…STF, ajudaria muito se não lutasse tanto pela descriminalização do porte de
drogas. Aí de fato, teremos um flagelo. Realmente, “
eles serão inextinguíveis”.
Não vai
nenhuma crítica, pois sou fã incondicional da escritora Nélida Piñon, soube que
ela teria deixado apartamento no Rio de herança para suas duas cachorras…O
dinheiro era dela, mas…
Bem. Se o
Bom Samaritano e São Francisco de Assis vivesse hoje em nossos centros urbanos
eles iam continuar precisando muito da virtude da COMPAIXÃO ( Sentir às
necessidades do outro como se fosse nossa), mas precisariam desenvolver mais
uma faculdade. Hoje imprescindível: O
DISCERNIMENTO. ( lucidez de espírito capacidade que
permite distinguir as intenções veladas por trás de um gesto)
Quem está
me abordando, com tanta piedade, precisa de minha compaixão e caridade ou está
praticando a “mendicância profissional".
Meu amigo
Sebastião Gonçalves( brinquei que ele seria o “prefeito do
Córrego da Mata” me revelou em nossa conversa,
enquanto levávamos sal mineral para o gado em um pasto distante. Tiãozinho me confidenciou
que entrava em um restaurante de um posto para almoçar, quando foi abordado por
um senhor andarilho, pedindo algum dinheiro para almoçar. Tiãozinho, pediu que
ele entrasse e assentasse na mesa com ele. “ Tudo que eu
comer, voce também vai comer”.. Ele não vai gostar desta
revelação. Mas como precisamos desta caridade anônima…
Compaixão. “ Se eu tiver
duas camisas. E alguém chegar com frio, uma eu darei.”
Sem perder
o discernimento. Em Belo horizonte uma
mulher parecia trazer uma enorme ferida aberta na perna. Era uma carne que ela comprava
em algum açougue e amarrava na canela e ostentava aquilo afim de comover as
pessoas no seu pedido de esmola. Ao fim do expediente, entrava em um banheiro
público, retirava a farça, trocava de roupa e sai de lá outra pessoa. Um dia a
casa dela caiu…
Em
Uberlândia, entrava em uma operadora de celular com a minha filha, cruzamos com
um rapaz que saia do estabelecimento, falando meio que sozinho, o mau cheiro
deixado por ele na loja foi nauseante. Ficou por muito tempo impregnado naquele
ambiente. Indicava alguém há semanas sem tomar banho… Logo, outro passava na
rua xingando todo mundo pela frente…
Tomávamos
um sorvete no “meque” máquina”, devia ter umas dez pessoas por ali no momento,
alguém entrou, bateu palmas, chamando atenção, contou uma história triste,
sobre cirurgia de uma criança, balança uma folha, dizia ser um laudo, citou
nome de médico, enfim, todos ouviram de cabeça baixa. Eu também. Ele se foi sem
nada…
Ainda em
Patrocínio entro em um banco, alguém me estender a mão com um papelzinho.
Quando li a frase “ envie um pix, para...” devolvi
o papel na hora. Nem li a história triste que certamente continha. Pensei “mas era só o
que faltava, agora pedem esmola no pix? Nem
eu sei usar direito esta geringonça. Depois me arrependi, amargamente, deveria
ter lido, não me custava nada ser pelo menos educado…
Em
Patrocínio, em meu bairro Morada Nova. Ouço alguém gritando “ pare
aí” “ ei, falei pra parar aí” Por coincidência,
tinha um ponto de coletivo e no momento um ônibus estacionava, imaginei que
alguém pedia para o ônibus esperá-lo. Quando olhei por curiosidade, a pessoa
que corria e gritava, não falava com o ônibus. Falava comigo. E já estava ao meu
lado exibindo um canivete aberto: “ É um
assalto, moço!”
Olhei nos
olhos dele com tanta calma e serenidade que ele se desconcertou todo. Começou a
me pedir desculpas e guardar a arma. Me perguntou se eu tinha ficado
assustado "Você no meu lugar ficaria?” Disse
pra ele, que o final daquilo era cadeia ou morte. “ Você não
nasceu para fazer isto”
Discernimento…Se
você sentir e puder alguém AJUDA! … A malandragem e a malícia reinante e
crescente não pode confundir a nossa compaixão e nos fazer perder esta
perspectiva:
“Pois eu tive
fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui
estrangeiro, e vocês me acolheram;
necessitei de
roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive
preso, e vocês me visitaram'.
“Então os
justos lhe responderão: 'Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer,
ou com sede e te demos de beber?
Quando te
vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos?
Quando te
vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?'
“O Rei
responderá: 'Digo a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores
irmãos, a mim o fizeram'.”
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