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Colunas
09/02/2024 - 08h39
ENTRE O CÉU E AS TELAS
Confira a coluna do Emerson Miranda na última edição da Gazeta: 4.227

“Em todo passeio pela natureza, uma lição de vida nos é oferecida." – John Lubbock

 

No último sábado, o céu de Patrocínio se desdobrava em uma tela viva, tingida pelas pinceladas avermelhadas do entardecer. Uma migração de pássaros desenhava silhuetas dançantes contra o espetáculo de nuvens em formas caprichosas. Enquanto isso, na praça, uma outra cena se desenrolava: cabeças inclinadas, olhos fixos nas telas luminosas dos smartphones, alheias ao esplendor celeste.

Eu observava essa dicotomia, sentindo uma tristeza sutil ao perceber que muitos perdiam a chance de testemunhar a magnificência da natureza. Contudo, em um momento de reflexão, compreendi que cada um estava imerso em sua própria realidade, talvez tão vasta e complexa quanto o céu que se estendia acima.

Foi então que, ao baixar meu olhar, encontrei um novo universo em uma poça d'água. O céu, as nuvens, as árvores e as torres da Igreja de Santa Luzia refletiam-se nela, criando um espelho do mundo acima. Essa imagem duplicada trouxe-me um insight profundo: a beleza e o esplendor da criação estão em toda parte, basta saber onde e como olhar.

Neste instante, lembrei-me da alegoria da caverna de Platão. Assim como os prisioneiros da caverna, muitos de nós estamos acorrentados a percepções limitadas, vendo apenas sombras de uma realidade mais ampla. Os smartphones, como as sombras na parede da caverna, oferecem uma versão da realidade, mas não a realidade completa.

Aqueles pássaros migratórios, alheios às distrações humanas, seguiam seu curso natural, guiados por uma sabedoria ancestral. Eles, em sua liberdade, contrastavam com a prisão voluntária daqueles fixados em suas telas. Será que, assim como os prisioneiros de Platão, estamos tão imersos em nossas realidades construídas que nos esquecemos de olhar para o céu, para as poças d'água, para o mundo em sua essência pura?

No entanto, há esperança. Assim como na alegoria, onde um prisioneiro se liberta e descobre a verdadeira realidade, cada um de nós tem a capacidade de levantar a cabeça e olhar além das sombras. No reflexo daquela poça d'água, percebi que a verdadeira liberdade está na capacidade de apreciar todas as facetas da realidade, seja ela refletida no céu, em uma tela digital ou em um simples espelho d'água.

Essa experiência na praça tornou-se uma lição: a beleza e o divino estão em toda parte, e a percepção disso é um ato de libertação. Quando passarmos, essas telas naturais e divinas permanecerão, eternas e magníficas, aguardando aqueles que escolherem erguer seus olhos e ver.

E assim, em cada pôr do sol, em cada reflexo na água, há uma chance de redescobrir o mundo, de se libertar das correntes e ver a verdadeira luz, assim como os pássaros que voam livres no céu, guiados pela luz do entardecer.

"A natureza é um livro aberto, disponível para todos que desejam lê-lo." – Galileo Galilei



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