O cenário diante de mim parecia emergir de um sonho remoto, moldado por memórias de vida e experiência. Minha mãe segurava meu filho nos braços, como quem carrega algo inestimável. Havia em seus gestos uma harmonia sutil, uma cadência que falava de vivências compartilhadas, de mulheres que um dia fizeram o mesmo, embalando o futuro enquanto sustentavam o presente. Ali estava ela, a mulher que um dia me acolhera em seus braços, agora protegendo outro pedaço de mim. "A mulher é o poema da criação," dizia Rabindranath Tagore, e naquele instante compreendi a verdade dessas palavras.
O olhar da minha mãe brilhava com uma luz que só as mulheres parecem carregar, uma mistura de força e ternura, de resiliência e doçura. Suas mãos, marcadas pelo tempo e pelo trabalho, sustentavam meu filho com a suavidade que só a experiência concede. Enquanto os dois se fundiam em um quadro de puro afeto, senti um profundo reconhecimento da grandeza feminina. Como são vastas as mulheres, pensei, não apenas em presença, mas na sua capacidade de influenciar tudo ao seu redor.
Olhei ao redor e percebi que minha admiração não era apenas pela cena diante de mim. Era por todas as mulheres que, em ações simples ou grandiosas, transformam e sustentam a vida. A vizinha que carrega as compras com um bebê no colo, a jovem que corre atrás de um objetivo enquanto equilibra os desafios diários, a colega de trabalho que encontra tempo para consolar um amigo mesmo quando carrega suas próprias dores. Todas elas, em suas ações grandes e pequenas, são a manifestação de um poder que muitas vezes passa despercebido em um mundo apressado e desatento.
Lembrei-me de Clarissa Pinkola Estés, que em "Mulheres que Correm com os Lobos" descreve a Mulher Selvagem como um arquétipo que transcende o tempo e o espaço. "Ela é a alma feminina. Ela é tudo o que for instintivo, tanto do mundo visível quanto do oculto — ela é a base." Minha mãe, ali diante de mim, era a manifestação desse arquétipo. Sua presença continha uma sabedoria que transcende palavras, alimentada por experiências vividas e compartilhadas. Como uma loba cuidando da sua cria, ela passava adiante algo vital, que nunca deve ser perdido.
O meu filho, ainda tão pequeno, olhava para ela com fascínio. Havia ali um reconhecimento inconsciente, quase instintivo, de que estava diante de algo maior do que ele podia compreender. Talvez ele nunca perceba a profundidade daquele instante, mas aquele momento ficaria gravado na sua alma, como uma memória que o acompanhará mesmo sem ser nomeada.
É curioso como as mulheres carregam uma presença que se manifesta de forma tão diversa. Algumas a expressam em palavras que confortam, outras em gestos que acolhem. Há aquelas que transformam um lar em um refúgio, enquanto outras enfrentam desafios imensos, desafiando barreiras e preconceitos. Cada uma, à sua maneira, constrói algo duradouro e essencial.
Em casa, na rua, no trabalho, há mulheres cujas vidas muitas vezes passam despercebidas, mas que possuem uma grandeza que transcende as aparências. São mulheres como minha mãe, que no gesto de segurar um neto revelam o ciclo da vida; ou como aquela professora que molda mentes com o mesmo cuidado com que minha mãe segurava meu filho. São mulheres que nos fazem lembrar que o verdadeiro impacto está nas pequenas ações, na capacidade de amar, de cuidar, de perseverar.
Enquanto observava minha mãe e meu filho, senti-me tomado por uma profunda gratidão. Por ela, por todas as mulheres que vieram antes dela e por aquelas que ainda vão surgir. Como Clarissa escreve, "Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas." Minha mãe era a personificação dessa relação. Sua existência era um tributo àquelas que viveram antes dela e um presente às que virão depois.
É impossível olhar para as mulheres e não reconhecer sua grandeza. Cada uma, em sua singularidade, carrega algo incrível dentro de si. São fontes de vida, de sabedoria, de coragem, de inspiração. Elas são, como dizia Virginia Woolf, "a espinha dorsal do mundo." E neste mundo, que tantas vezes tenta aprisioná-las em padrões e limitações, elas continuam a buscar a liberdade, como lobas que encontram em cada obstáculo uma oportunidade de se reinventar.
Quando minha mãe sorriu para mim, senti que ela sabia de algo que eu ainda estava aprendendo. Um conhecimento que não pode ser dito em palavras, mas que pode ser percebido em gestos, em presenças, em olhares. Era o sentido da vida, da força, do amor. E naquele instante, compreendi que minha missão, como filho, como pai e como homem, era reconhecer isso. Reconhecer as mulheres, não apenas em palavras, mas em atitudes, enxergando em cada uma delas a grandeza de quem sustenta o mundo ao seu redor.