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Rodovias
14/06/2024 - 09h00
Rodovias públicas têm taxa de acidentes três vezes maior que as concedidas

Dirigir nas rodovias federais do Brasil é um risco. Só em 2023, foram registrados quase 65,2 mil acidentes, uma média de praticamente 179 por dia nessas vias. Uma lupa sobre os dados mostra que o problema é ainda maior nas rodovias sob gestão pública, onde a taxa de acidentes, inclusive graves, é três vezes maior do que nas concedidas à iniciativa privada. Especialistas concordam que as concessões têm ajudado a reduzir as ocorrências, mas alertam que ela não é a solução para todas as vias.

Os dados são de um estudo publicado nesta sexta-feira (14/06) pela Fundação Dom Cabral (FDC). Ele analisou os registros de acidentes de trânsito nas rodovias federais desde 2018. No conjunto de todos os anos analisados, ocorreram cerca de 377,7 mil acidentes, 210,1 mil nas rodovias públicas e 167,6 nas concedidas. A pesquisa levou em consideração a intensidade do trânsito em cada trecho para chegar à taxa de acidentes em cada categoria de via e também à taxa de severidade dessas ocorrências, isto é, o quão graves foram as ocorrências. Nos dois cenários, os números foram pelo menos três vezes maiores nas rodovias públicas.

“Nas rodovias concedidas, há obrigatoriedade de investimentos para redução do número de acidentes e da severidade deles. Isso faz muita diferença, porque na gestão pública não há essa obrigatoriedade”, introduz o professor associado e coordenador do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain e Logística da FDC e um dos responsáveis pelo estudo, Paulo Resende. “O Brasil deveria ter uma política de investimentos em rodovias geridas pelo governo para obrigar que parte deles seja para a queda da severidade dos acidentes”.

No último ano, pela análise da FDC, três quartos da extensão de rodovias com acidentes registrados estavam sob gestão pública. Para Resende, a expansão das concessões é uma das alternativas para reduzir os sinistros, mas não soluciona o problema sozinha. “Temos que investir em melhorar as públicas, porque, na relação de quilometragem, elas são muito maiores do que a rede concedida. Não podemos falar em investimentos só nas concedidas, porque há muitos trechos rodoviários que não têm interesse privado e continuarão públicos, com alta taxa de severidade de acidentes”, diz ele.

A concessão também não garante de imediato o aumento da segurança das vias. Em primeiro lugar, elas nem sempre entregam as obras de melhoria no tempo previsto, pontua o especialista em trânsito e coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto. Além disso, a transição do modelo público para a concessão pode elevar o número de acidentes pontualmente no início. “Quando se inicia o processo de concessão, há tendência de aumento de acidentes, porque a pista fica em melhores condições e as pessoas se sentem mais à vontade para exceder o limite”, diz.

Isso explica, segundo Resende, por que nacionalmente o número absoluto de acidentes nas rodovias concedidas aumentou desde 2018, enquanto o das públicas diminuiu. Nas públicas, eles foram de 36.880 para 34.650, diminuição de 6%. Nas concedidas, de 
28.845 para 30.526, aumento de 5,8%. Os dados avaliados pela FDC consideram trechos com volume diário médio de 1.000 veículos. 

Minas é o segundo Estado com maior taxa de severidade de acidentes

Menos da metade das unidades da Federação — 12 das 27 — respondem por 82% dos acidentes nas rodovias federais. No topo da lista de ocorrências em números absolutos da Polícia Rodoviária Federal (PRF), compiladas pela FDC, está Minas Gerais. Porém, quando se leva em conta a taxa de severidade de acidentes em 2023, que considera a gravidade dos sinistros, Minas decai uma posição e fica em segundo lugar, atrás somente do Paraná. 

Concessões podem ajudar na redução desses acidentes graves, devido à manutenção constante das empresas concessionárias, mas os resultados não aparecem rapidamente. “Em geral, tivemos uma transferência considerável de rodovias públicas para a iniciativa privada nos últimos anos. Isso significa que os investimentos das concessionárias para melhorar essa taxa [de severidade de acidentes] ainda não mostraram seus efeitos, porque são de longo prazo. Ou seja, muitos locais de alta taxa que apareciam na edição anterior da pesquisa, agora estão na gestão privada”, afirma Paulo Resende.

O professor da FDC lista trechos que considera mais problemáticos em Minas. “Sem dúvida, eu incluiria o trecho da 381 para Governador Valadares, seus trechos na região metropolitana e na região de Ipatinga. Temos a 116 e eu diria, também, a 040”. Em todo o Brasil, a BR-116 é a rodovia federal com maior taxa de severidade no estudo, seguida de perto pela 101. Elas também são as duas mais extensas do país, o que explica em parte a gravidade do cenário em ambas.

A FDC compilou, ainda, quais foram as rodovias federais com a maior taxa de severidade de acidentes em 2023 por região. Dos dez trechos de rodovias do Sudeste com as taxas mais elevadas, oito estão em Minas, veja:

  1. BR-101, km 269: Serra (ES);
  2. BR-101, km 270: Serra (ES);
  3. BR-365, km 612: Uberlândia (MG);
  4. BR-116, km 276: Teófilo Otoni (MG);
  5. BR-116, km 413: Governador Valadares (MG);
  6. BR-116, km 275: Teófilo Otoni (MG);
  7. BR-116, km 528: Caratinga (MG);
  8. BR-116, km 702: Muriaé (MG);
  9. BR-365, km 611: Uberlândia (MG);
  10. BR-116, km 622: Caratinga (MG). 

O estudo aponta, ainda, as rodovias federais com as maiores taxas de severidade de acidente nacionalmente em 2023:

  1. BR-116;
  2. BR-101;
  3. BR-364;
  4. BR-153;
  5. BR-163;
  6. BR-262;
  7. BR-316;
  8. BR-230;
  9. BR-470;
  10. BR-376.

O dilema do pedágio

Uma rodovia melhor pode significar mais pedágios, o que pode levar a dupla cobrança sobre o bolso do motorista, que já arca com impostos, reflete o coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto. “O motorista precisa entender que ele é um consumidor de rodovias, não usuário. Pagamos a partir dos impostos ou duplamente a partir do pedágio. Hoje, acredito que as concessionárias estão entendendo o valor de reduzir o índice de acidentes, de mortos e feridos, porque isso fortalece a imagem das concessões e as valoriza. Já que no Estado isso é mais complicado, que elas utilizem equipamentos mais modernos”.

O professor da FDC Paulo Resende completa que o retorno de investimento do pedágio precisa ser avaliado além da qualidade do asfalto, habitualmente o fator mais evidente para os motoristas. “A mente das pessoas é levada rapidamente a avaliar se estão pagando pedágio e a estrada está esburacada. Imediatamente, falam que não compensa pagar. É necessário ter mais investimentos para reduzir as colisões frontais, que são as que mais matam. Eu diria para verem o valor do pedágio avaliando: a estrada está duplicada? Tem acostamento? Tem terceira faixa para caminhão? Assim, poderemos cobrar mais as concessionárias sobre o que pagamos no pedágio”.



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