E José Geraldo de Freitas Drumond continua: Há vários sistemas de valores, conforme a tradição cultural de um povo.
Assim, os anglo-saxões têm uma filosofia de liberdade e veracidade vinculada à
luta e à busca da vitória a qualquer preço, com o consequente desprezo aos
derrotados. Para eles a verdade está na diferença entre bons e maus, entre
vencedores e perdedores, pois só os vencedores alcançam o paraíso.
Os
povos asiáticos, representados pelos japoneses, estabeleceram três abordagens
para os valores: a xintoísta, a confucionista e a budista. A primeira reforça
as virtudes da fidelidade e da obediência; a segunda prega o consenso e
relações sociais de respeito mútuo, a não violência, a persuasão, a busca da
harmonia e prevenção do conflito; enquanto o budismo prioriza o bem da
coletividade acima dos desejos individuais.
Já
os povos latinos têm os seus valores baseados na tradição mediterrânea. Foi no
Mediterrâneo, mais propriamente na Grécia, que nasceu a ética ocidental, cujo
sistema de valores é anterior ao próprio cristianismo. A ética mediterrânea
exibe uma linguagem de expressão do bem e do mal, da virtude e do vício,
diferentemente da ética anglo-saxônica, cuja linguagem se refere a direito e
poder.
Virtude
é um traço do caráter humano socialmente valorizado, enquanto a virtude moral é
aquele aspecto moralmente valorizado. A virtude moral consiste na disposição ou
no hábito de agir de acordo com princípios, normas ou ideais morais. Virtudes
são, pois, qualidades ou excelências morais, importantes para distinguir um
profissional com atributos de caráter, indispensáveis para uma adequada
atuação, especialmente para aqueles que se dedicam a servir em áreas que têm
aplicação direta na saúde ou na qualidade de vida do homem.
Hoje, diante do desapego da sociedade pós
moderna aos valores espirituais e dos profissionais àqueles próprios de sua
especialização, consequência da competição desenfreada propiciada pelo mercado
de trabalho globalizado, cada vez mais estreito em decorrência do número de
profissionais e pela ampliação da área do conhecimento que, por sua vez, leva
ao aparecimento de novos profissionais para atender a multidisciplinaridade das
profissões hodiernas, surge o apelo à prática da ética da virtude e ao cultivo
dos valores morais.
É
importante identificar qualidades morais que possam robustecer o compromisso
social da profissão e, ao mesmo tempo, estabelecer contraponto com as
qualidades morais da própria sociedade, que as expressa por meio de seus
cidadãos, ao procurar os serviços do especialista.
Para
o profissional tais qualidades podem ser inúmeras, mas, a título de
contribuição, distinguiremos: a prudência, a temperança, a coragem, a
fortaleza, a justiça, a generosidade, compaixão, a humildade, a tolerância, a
misericórdia, a fidelidade, a solicitude e o entusiasmo. No caso dos clientes,
razão maior da existência profissional, é de exigir as qualidades morais da
sinceridade, confiança, probidade, equidade e tolerância.
Somente
pelo exercitar destas virtudes é que uma pessoa poderá se capacitar a refletir
e julgar as situações, muitas vezes imprevistas, do cotidiano profissional e
propiciarão uma boa análise.
A
este respeito, André Comte-Sponville, assim se manifesta: Das virtudes quase
não se fala mais. Isto não significa que não precisamos mais delas, nem nos
autoriza a renunciar a elas. É melhor ensinar virtudes, dizia Spinoza, do que
condenar os vícios. É melhor a alegria do que a tristeza, melhor a admiração do
que o desprezo, melhor o exemplo do que a vergonha. Não se trata de dar lições
de moral, mas de ajudar cada um a se tornar seu próprio mestre, como convém, e
seu único juiz.
Com
que objetivo? Para ser mais humano, mais forte, mais doce. Virtude é poder, é
excelência, é exigência.
As virtudes são nossos valores morais, mas
encarnados, tanto quanto pudermos, mas vividos, mas em ato. Sempre singulares,
como cada um de nós, sempre plurais, como as fraquezas que elas combatem ou
corrigem. Não há bem em si: o bem não existe, está por ser feito, é o que
chamamos de virtudes.