Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade, recomendar conteúdo de seu interesse e otimizar o conteúdo do site. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Confira nossas Políticas de Privacidade e Termos de Uso, clique aqui.

O jornal que todo mundo lê
Publicidade
Colunas
18/04/2024 - 10h26
A verdadeira história dessa terra
Confira a coluna do Emerson Miranda na última edição da Gazeta: 4.237
Foto Patrocínio / Arquivo

Enquanto enxugava o suor da minha testa, durante uma pausa no labor diário, percebi a beleza singular do momento que me cercava: a grama recém-cortada, o céu azul sem fim e a luz dourada do sol combinando-se em uma harmonia perfeita. Esse instante de clareza não apenas marcou o início de um novo capítulo da minha vida em Patrocínio, não somente como auxiliar de serviços gerais na manutenção das áreas verdes, mas também como o despertar de uma jornada de redescoberta e apreço pela cidade que sempre chamei de lar.

A grama, recém-cortada, liberava um aroma que se misturava à brisa do amanhecer, cada lâmina refletindo o brilho do sol nascente, como se fosse a própria essência de Patrocínio sendo renovada sob meus cuidados. E, nesse gesto tão simples, mas carregado de significado, encontrei uma ponte para os corações e almas daqueles que, com suas mãos calejadas e sorrisos genuínos, moldam diariamente o espírito desta terra.

“Não herdamos a terra de nossos antepassados; pegamos emprestado de nossos filhos”, reflete o adágio nativo americano que ecoava em minha mente enquanto me movia de praça em praça, de rua em rua, cortando a grama, mas também tecendo laços invisíveis com cada passante que me oferecia um sorriso ou uma palavra amável. Era como se, em cada interação, uma história não contada fosse compartilhada, uma lembrança de que Patrocínio não é feita apenas de suas paisagens, mas, acima de tudo, de sua gente.

O sol se desdobrava como um pergaminho antigo, revelando histórias escritas não com tinta, mas com suor, risadas e, às vezes, lágrimas. A senhora que, ao me ver passar, trazia um copo d'água fresca e contava histórias de como Patrocínio era quando ela era menina. O jovem que, ao lado de sua bicicleta, parava para observar e sonhava em um dia deixar sua própria marca na cidade, não sabendo que já o fazia.

E assim, fui compreendendo que “não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual; somos seres espirituais passando por uma experiência humana”, como disse Teilhard de Chardin. Patrocínio, com suas praças e paisagens, era o cenário, mas o verdadeiro espetáculo eram seus habitantes, desempenhando seus papéis com uma autenticidade que não pode ser ensaiada.

Em minha nova função, eu sou mais do que um auxiliar de serviços gerais; sou um observador privilegiado, um cronista silencioso da vida cotidiana que se desenrola com uma beleza discreta, mas imensurável. Vejo, na simplicidade do meu trabalho, a complexidade da existência humana, onde cada corte de grama é uma reverência à vida que pulsa em cada esquina, em cada olhar cruzado, em cada gesto de gentileza.

“Para ver o mundo num grão de areia e o céu numa flor silvestre, segura o infinito na palma da tua mão e a eternidade numa hora”, William Blake captura com perfeição a essência do que comecei a sentir. Patrocínio se desdobrava diante de mim, não apenas como um local geográfico, mas como um estado de espírito, um mosaico vivo de histórias, sonhos e lutas diárias.

Ao final do dia, enquanto o sol se punha, tingindo o céu de laranja e rosa, eu me sentia grato por ser parte desse todo, por ter a chance de conhecer a cidade e seus moradores de uma maneira tão íntima e profunda. Aprendi que a verdadeira grandeza de Patrocínio não reside em seus monumentos ou feitos históricos, mas no coração e na alma de seus cidadãos, que, com sua resiliência e alegria, compõem a verdadeira história desta terra.

Esta jornada, iniciada em um novo cargo, revelou-se como um caminho de iluminação pessoal, onde cada dia de trabalho será uma página a mais no livro da vida, repleta de aprendizados e momentos de pura conexão humana. Patrocínio, com sua grama bem cuidada, reflete a beleza das suas pessoas, mostrando-me que, independentemente do papel que desempenhamos, somos todos jardineiros da alma, cultivando amor, respeito e compaixão por onde passamos.

E assim, em meio à simplicidade do meu trabalho, descobri a complexidade e a beleza de viver, reconhecendo que cada um de nós tem a capacidade de tocar a vida dos outros de maneiras profundas e significativas. Patrocínio, essa cidade de histórias e sonhos, continua a ser construída todos os dias, não apenas por suas grandes figuras, mas por cada um de seus habitantes, que, com suas pequenas ações e grandes corações, tecem a verdadeira essência deste lugar mágico.



Confira Também


Publicidade

no Facebook