“A cultura é o coração batendo no peito de um povo.”
E o coração de Patrocínio bateu forte na última edição do “Arraiô Patrô”. Bateu em compasso de quadrilha, bateu acelerado na corrida da fogueira, bateu emocionado nas palmas que ecoavam pelas ruas decoradas. Quem passou pela Praça ou pelas escolas sentiu — no ar, no corpo e na alma — que havia algo diferente: uma entrega coletiva, um amor cultivado com esmero e colhido em festa.
A Secretaria Municipal de Cultura, como semeadora desse tempo bom, soube ouvir. Não apenas planejar, mas ouvir: os artistas, os educadores, os estudantes, os comerciantes, os brincantes de toda parte. Com essa parceria sólida formou-se uma rede humana, delicadamente entrelaçada como os retalhos de uma colcha de fuxico. Foi isso que fez do Arraiô 2025 um fenômeno: a descentralização consciente, que abriu espaço para o talento local e devolveu ao povo sua própria festa.
“Tudo que é humano precisa de raízes. Sem elas, murchamos de dentro para fora.”
Nesse ano, as raízes foram regadas. As quadrilhas escolares — vindas dos quatro cantos da cidade e comunidades — trouxeram mais que passos coreografados: trouxeram memórias. Cada laço no vestido, cada detalhe no chapéu, cada música escolhida era um pedaço da história de quem dançava. Não era um espetáculo para ser aplaudido apenas: era para ser sentido, vivido, celebrado.
A tradicional Corrida da Fogueira, que há décadas desafia os corajosos a correrem entre risos e suor, teve seu brilho próprio. Em tempos de tanto cansaço cotidiano, correr por alegria parece um gesto quase revolucionário. Ver crianças, adultos e idosos lado a lado, foi um dos tantos momentos em que Patrocínio revelou sua verdadeira identidade: a de um povo que não esquece de ser gente.
“O que faz o ser humano ser grande é a capacidade de se alegrar com o simples.”
E simples foi tudo, e por isso mesmo, grandioso. O Arraiô não precisou de estrelas de fora para brilhar. As luzes que iluminaram o evento vieram do interior: do olhar da criança que dançou sua primeira quadrilha, do sorriso do idoso que reconheceu seu neto no palco, da emoção da costureira que viu seu vestido reluzir sob os refletores.
A descentralização cultural não é apenas um modelo de gestão — é um gesto de confiança. Confiar na potência criativa dos nossos, no talento esquecido dos bairros, nas tradições guardadas nas cozinhas e varandas. Quando a cultura é feita com e para o povo, ela deixa de ser evento para ser vivência. E foi isso que aconteceu: Patrocínio viveu o Arraiô, e não apenas o assistiu.
“Arraiô” tornou-se mais que saudação: virou ponte entre passado e presente, entre palco e plateia, entre gestor e cidadão. Foi como se cada um dissesse: “Arraiô, meu povo!” — e o povo respondesse: “Presente!”.
“Nenhuma festa é festa se não fizer morada no coração.”
E como fez. Houve quem chorasse de emoção ao ver sua comunidade dançar; houve quem se lembrasse da infância, da roça, do pai que acendia a fogueira, da mãe que trançava o cabelo para a festa. Tudo estava ali — revivido, refeito, reencantado. E no centro disso tudo: nós, os patrocinenses.
Patrocínio, tantas vezes ferida pela pressa, parece ter entendido que o caminho mais seguro para o futuro é aquele que respeita os rastros do passado. O Arraiô 2025 não foi apenas um evento cultural — foi um gesto poética. Em meio ao concreto, dançamos. Em meio ao ruído, cantamos em coro. Em meio ao desencanto geral, reacendemos nossa fogueira.
E agora, que os enfeites se recolhem e o som das quadrilhas silencia, fica o eco do que foi vivido. Fica a certeza de que a cultura, quando bem cuidada, não termina com a festa. Ela permanece — nos encontros, nas lembranças, nos sonhos plantados.
Que venham outros junhos, outras bandeiras, outros palcos. Mas que nunca falte isso que agora reaprendemos: a beleza de fazer juntos, de dançar com os nossos, de viver um "Arraiô" que é muito mais do que festa — é identidade.
Que essa alma continue leve, colorida, dançante. E que a cada ano, ao ouvirmos o grito de "Arraiô!", saibamos reconhecer: é o coração de Patrocínio pedindo passagem — e batendo em festa.
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