Liberdade.
Na imprensa patrocinense ela ecoa desde 1938. Como também independência de
opinião. Há 87 anos, surgia a “Gazeta de Patrocínio”. A edição nº 1,
circulou em 02 de outubro de 1938 (domingo). O diretor-proprietário era
Sebastião Elói. Só esse nome merece respeito e perene louvação. O redator, o
advogado Lúcio de Azevêdo. Sucursais em BH (sociólogo e professor da UFMG, o
patrocinense Júlio Barbosa), e, no Rio de Janeiro (João Elói dos Santos, irmão
de Tião Elói). E o emblema (símbolo na primeira página) era “Órgão
informativo e cultural no Estado Novo” (Estado Novo foi a ditatura de
Getúlio Vargas de 1937-1945). Como dever cívico de qualquer patrocinense,
alguns aspectos da edição Número 1 da “Gazeta de Patrocínio” e da “Aquarela
Rangeliana da Semana Santa”, escrita mais tarde pelo gênio Sebastião Elói,
são rememorados. Essa crônica-poema é um show histórico de Patrocínio. Tais
como nomes antigos de ruas, o ano da construção da Igreja (capela) de Santa
Luzia (poucas pessoas sabem), que foi em 1900, a semana Santa em priscas eras.
Onde era o centro da cidade e o Largo da Donana do Rancho. Enfim, a história
verdadeira para ser degustada. Para
começar, estrofe de Sebastião Elói:
“Feliz a geração presente
Que não sente como a gente
Pois, essa saudade doída, incomum,
Arrasa, arrebenta qualquer um.”
O CENTRO E AS SUAS
RUAS – Nos
primeiros vinte anos do século XX, por volta de 1915-1916, o Largo da Donana do
Rancho (hoje, Praça Tiradentes ou Praça da Cadeia Velha) era imenso e tinha o
casarão mal assombrado (a Cadeia) lá. Nas proximidades, a Rua 15 de Novembro
(hoje, Rua Governador Valadares), Rua das Flores (hoje, Professor Olímpio dos
Santos), Ruas das Pedras (hoje, Rua Paula Arantes), Rua Direita (hoje, Rua
Cesário Alvim), Rua 7 de Setembro (hoje, Rua Presidente Vargas), e Rua São
Miguel (hoje, Cassimiro Santos). Enfim, segundo Tião Elói, a parte central da
cidade ficava na região da Escola Dom Lustosa e Rua das Pedras.
O CENTRO COMERCIAL DE
PATROCÍNIO – Rua
do Cavaco (hoje, Rua Prof. Olímpio dos Santos), cheia de ranchos de capim, era
alusão às madeireiras no local. Rua do Cisco (hoje, Rua Quintiliano Alves) era a
rua onde depositava o lixo gerado na Rua do Cavaco. Já o centro comercial, no
começo do século XX, abrangia a Rua do Cascalho (Rua Governador Valadares, mais
ou menos onde residiu a família Elói e nasceu a Gazeta de Patrocínio), passava
pelo Largo da Donana e descia até o Córrego Rangel.
ARTE BARROCA EM TRÊS
IGREJAS – As
igrejas, de acordo com a “Aquarela Rangeliana”, ficavam do lado externo
da cidade (na topografia alta). A Matriz, com duas torres. A do Rosário (na
atual, praça Honorato Borges) era destinada aos negros e gente de pouco poder
aquisitivo. Na mesma praça (Largo do Rosário) onde é hoje a Superintendência
Regional de Ensino, estava a igreja de Santa Rita (destinada à elite social).
Essa construída com altares semelhantes às de Ouro Preto: dourado e cheios de
arte barroca (estilo artístico do século XVI). Aliás, a igreja de Santa Rita
foi uma das primeiras igrejas construídas à lá Ouro Preto.
E O QUE ACONTECEU COM
AS IGREJAS? – No
velho hábito patrocinense, jogaram as três no chão. Pouco importa ou importava
a história. A Matriz, como escreveu Tião Elói, desapareceu com o seu passado
(1935-1936). A Igreja de Santa Rita, onde em frente havia diversas “minas”
(“olhos”) d’água, e a Igreja do Rosário foram demolidas sem razão. E os
materiais restantes vendidos para o Teodorico Machado. A “antiga” Cadeia
Velha (Largo do Rosário), época imperial, também demolida, substituída por
residências (hoje, próxima ao Instituto Bíblico).
E ONDE ERA O
CEMITÉRIO? – No
início do século XX, o cemitério municipal localizava-se onde é hoje o Asilo
São Vicente e a “Vila dos Pobres” (o Asilo agora transformou-se em casa
de repouso). Elói descreveu em sua Aquarela “que o Cemitério Velho foi
demolido maldosamente. Sem respeito, ao menos, à memória dos sepultados.”
PRIMEIRA PÁGINA DO Nº
1 – “O
jornal faz muita falta. O jornal é necessário e útil” (Sebastião Elói). Já
o redator Dr. Lúcio Azevêdo assim se expressou: “... sem interesses
individuais, sem ambições, e, sem entraves, queremos que a “Gazeta de
Patrocínio” seja a própria voz representativa do Município”. Isso em
02/10/1938.
SEGUNDA PÁGINA DO Nº 1
– Júlio Barbosa
(de BH) escreve “Mais Sete Dias...”. E uma reportagem do jornal “Folha
de Minas” (transcrição), sobre as águas minerais de Serra Negra e Salitre,
a lagoa maravilhosa de Chapadão de Ferro (será que existe ainda?). Em certo
trecho: “... o Chapadão do Ferro mostra ser o local ideal para uma fábrica
de aviões...”
TERCEIRA PÁGINA DO Nº
1 – Poema de
Massilon Machado. Portarias do Prefeito (médico) Vicente Soares. E uma notícia
sobre um animal estranho, gigante, esquisito, que vinha comendo línguas de
vacas, matando-as a seguir. O povo da Vila Folhados estava apavorado!
QUARTA PÁGINA DO Nº 1 – Diversos julgamentos no Tribunal do
Juri da Comarca. Posse na Associação Comercial de PTC, em organização. Filme no
Cine Triângulo.
(eaamaral@hotmail.com)