Santidade. A caminho dela está o mais puro ser humano que pisou esse chão. Na verdade, residiu por algum tempo (1941/1942) em Patrocínio, e ainda participou da vida patrocinense por dez anos (1925/1935), quando foi padre e vigário na então Água Suja (hoje, Romaria). Depois, de se tornar venerável (2003) e beato (2006), a sua canonização (confirmação do Vaticano de que o beato é santo) está se aproximando. Nessa semana (24/8 a 30/8), foi realizada a “Festa do Beato Padre Eustáquio”, no Santuário da Saúde e Paz (Igreja Padre Eustáquio), em Belo Horizonte. Sim, sem dúvida, o holandês Padre Eustáquio também tem muito a ver com Patrocínio. Nesse ano de 2024 comemora-se 99 anos da chegada dele ao Brasil, onde permaneceu por quase 20 anos. E dia 30 de agosto de 2024, completou 81 anos de seu falecimento (30/8/1943). Quem foi Padre Eustáquio sempre é bom saber. Sobretudo, nesse momento, com a descoberta de um filme dos anos 30, que poderá colaborar na sua canonização. 

FILME ANTIGO, REVELAÇÃO DE AGORA – Durante essa semana, filme recém-descoberto na Holanda, com cenas desconhecidas de Padre Eustáquio, foi apresentado no museu que leva o seu nome, situado ao lado da Igreja, em BH. Padre Vinícius Maciel, que foi vigário paroquial em Patrocínio, um dos líderes da “Causa da Canonização”, recebeu o vídeo, sem áudio, enviado por Will van Den Boomen, sobrinho de Padre Eustáquio (ano passado, esteve em Patrocínio). As imagens dão destaque de Padre Eustáquio em Água Suja (1925-1935), e, em São Paulo e Poá (1936/1940). Na verdade, são as primeiras cenas reais vistas do santo padre em movimento. Segundo Padre Vinícius ao “Estado de Minas”, “o vídeo trata-se de grande descoberta nos aspectos histórico, investigativo, devocional e afetivo”. O vídeo apresenta Padre Eustáquio na Igreja em Itaquera (SP) e visita à Igreja em São Miguel Paulista (SP). Já em Água Suja aparece ao lado de um automóvel atolado na estrada. Esse filme está disponibilizado nas redes sociais da “Causa da Canonização” do Beato Padre Eustáquio (tem 10 minutos e é “mudo”).

“ESTADO DE MINAS” E COMUNICAÇÃO DA IGREJA ESQUECEM PATROCÍNIO – No tópico “Linha do Tempo” da notícia desse filme encontrado de Padre Eustáquio, publicada dia 25/8/2024 (domingo), no item referente a 1941 está escrito: “Padre Eustáquio deixa Poá (SP) para viver um exílio. Passa por São Paulo (SP) e interior do estado; retorna a Minas (Araguari, Monte Carmelo, Coromandel e Araxá); retorna a SP e vai para o Rio de Janeiro”. Depois na “Linha do Tempo” está que em 1942, 02 de abril, chega a BH, onde permanece por um ano e quatro meses (falecendo em 30/8/1943). Uai? Onde se encontra Patrocínio e Ibiá nessa incompleta “Linha do Tempo”? Esqueceram que Padre Eustáquio residiu em Patrocínio, desde 13/10/1941, por quatro meses, no Ginásio Dom Lustosa, dos padres holandeses. Esqueceram que foi o capelão da Igreja de Santa Luzia, e sacerdote na Santa Casa, nessa época. Esqueceram que em 12/2/1942, pelo trem da RMV, rumou para Ibiá, onde permaneceu por quase dois meses. E, finalmente, pelo trem também, chegou a BH em 04/4/1942 (outro pequeno erro de data está na chegada na capital: não foi dia 02). 

PRESENÇA NO DOM LUSTOSA TAMBÉM IGNORADA – Padre Eustáquio chegou à Água Suja em 15/7/1925, dois meses depois de desembarcar no Rio de Janeiro, vindo da Holanda. Lá foi instalada a primeira casa da Congregação dos Sagrados Corações, no Brasil. Nela, destacaram-se os padres holandeses Eustáquio, Norberto, Gil e Mathias. Em 11/9/1926, um ano depois, foi realizado importante Congresso Católico em Patrocínio. Os padres holandeses de “Água Suja” (Romaria) compareceram. Nesse dia, Padre Eustáquio van Lieshout, Padre Mathias van Rooij (esse viria a ser o primeiro diretor da escola holandesa Dom Lustosa) e Padre Gil van Boogaart assistiram também a um importante evento. Padre Eustáquio, representando a Congregação, assinou o contrato de doação do prédio, onde funcionaria o “Ginásio Dom Lustosa”. João Cândido de Aguiar e João Alves do Nascimento (esse agente executivo-prefeito) lideraram a campanha dos “coronéis” (líderes políticos), que viabilizou a compra do imóvel junto a Marciano Pires. As aulas começaram logo a seguir, em 15/2/1927.

NÃO SE PODE ESQUECER DETALHES – A proximidade de Água Suja e Patrocínio, as duas primeiras casas da Congregação no País, levam a crer, e há documentos para tanto, que houve enorme intercâmbio de padres entre as duas localidades. Exemplos, a eventual presença do Sacerdote holandês em 11/6/1932 em solenidade no Cine Odeon; em 18/6/1933, participação no “retiro” em Patrocínio; já em maio de 1941, devido aos milagres, a Igreja teve que “esconder” Padre Eustáquio. Araguari, Água Suja, Mogi das Cruzes (SP), e Patrocínio, dentre outras, acolheram o santo padre. Permaneceu algumas semanas em Patrocínio, depois foi deslocado para Franca (SP), Batatais, São Paulo e Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, aí sim, passou a residir em Patrocínio (outubro/1941). Então, Padre Eustáquio teve longeva convivência com os patrocinenses. Fato omitido pela comunicação que elaborou a notícia sobre o vídeo.

MAIS UM POUCO DE PADRE EUSTÁQUIO – Hubertus van Lieshout nasceu na Holanda, cidade de Aarle-Rixtel em 03/11/1890. No seminário passou a se chamar Eustáquio, em 1913. Em 1919, foi ordenado Padre Eustáquio. Em 1924, estudou espanhol na Espanha, pensando que iria para algum país sul-americano de língua espanhola. Em 1925, a pedido do bispo da Diocese de Uberaba, Dom Antônio de Almeida Lustosa (o Dom Lustosa), a Congregação enviou Padre Eustáquio, Padre Gil, Padre Mathias e Padre Norberto ao Brasil para assumirem o Santuário de Água Suja e paróquias da Diocese (inclusive a de Patrocínio e Araguari). Assim, na região (Água Suja, Araguari e Patrocínio), Padre Eustáquio começou a aprender o português com certa facilidade, pois sabia o espanhol. A partir de 1926, dirigiu a construção do novo santuário (a Igreja de Nossa Senhora da Abadia). A partir de 1935, foi transferido para Poá (SP), onde ficou até 1941. Residiu em Patrocínio (outubro/1941 a fevereiro/1942) e a partir de 04/4/1942 até 30/8/1943 viveu em BH. Milagres, inclusive para o maior presidente da República (JK), multidões, bondade, fé, amor, fizeram parte de sua santa vida missionária e espiritual na capital.